Esse, desde sempre, foi um blog terapêutico. Lugar para escrever aquilo que não consigo falar ou que até consigo, mas não quero, tanto faz.
Fato é que, depois de quatro anos, volto aqui para contar (e é difícil continuar a frase)... que meu pai faleceu. 67 anos. Jovem, cheio de vida e planos.
Meu pai morreu dia 27 de Junho às 15:30, vítima de um choque séptico de foco pulmonar. Uma pneumonia silenciosa, com sintomas que não o fizeram perceber, mas que tomou todo o pulmão, já meio fragilizado por 40 anos de fumo.
E a maldita sepse veio de uma forma que desafiou toda a tecnologia e recursos médicos. Nada foi o bastante para o corpo dele, que reagiu a qualquer tentativa de fazê-lo melhorar.
Foram aproximadamente 60 horas no hospital, desde a chegada até a partida. E, graças aos meus amigos queridos, consegui ter notícias dele mesmo no CTI. Amigos esses que não me pouparam da verdade e me permitiram estar ao lado do meu pai o tempo todo desde que entenderam que nada mais poderia ser feito.
Na 4a feira, apesar de sedado e entubado, ele tinha lagrimas nos olhos. Eu as enxuguei e conversei com ele explicando o que estava acontecendo. Pedi que ele fosse forte e, como sempre brinquei, lhe disse: "Se Deus te der a mão, não segura! Não chegou sua hora, subornei o Zé Maria!". Mas dessa vez, meu suborno não funcionou... em outros momentos, rezei e disse aos céus "você não vai levar meu pai. Tá proibido"... até agora tinha funcionado... mas o cara lá de cima quis mostrar que é dono do tempo e de nós todos que vivemos aqui nessa Matrix louca e desvairada.
Meu pai querido se foi. Parece piada. Parece mentira. Mas ele se foi e eu fiquei aqui sem ele... eu que sempre pensei que o teria por muitos e muitos anos ainda. Eu que pensei que o teria ao meu lado no dia que minha mãe fosse embora... mas não, ele foi primeiro.
Fico ouvindo os audios que ele me enviou ao longo dos últimos meses... dizem que eu não deveria, mas busco nesses audios as palavras que ele me diria agora e as palavras amorosas com "Bom dia, filha, sucesso hoje" ou "Força que você dá conta", entre outras.
Meu pai se foi cercado de cuidados médicos, dos irmãos, alguns sobrinhos e eu. Estivemos com ele até o zerar do monitor cardíado. Quem diria que aquele homenzarrão de quase 2 metros de altura, com um coração maior que ele mesmo, cheio de vontade de viver iria embora naquele dia 27, sem muito aviso.
Sinto um buraco no peito. Parece que tenho um mundo inteiro na cabeça, uma zonzeira que nunca passa, um sentimento de orfandade que nunca imaginei ser possível, uma vontade de tê-lo comigo abraçado e protegido por mim. Ah, se eu tivesse esse poder...
Eu gostaria de ter só uma parte das certezas espirituais que meu pai tinha. É claro que a fé que tenho me dá a certeza que ele está do outro lado e, tudo o que ele fez em vida por inúmeras famílias devem ter garantindo um lugarzinho para ele lá em cima. Mas sou filha, possessiva e preciso de certezas!!! Mas... como faz para tê-las?
Enfim... escrevendo meio sem sentido por aqui... mas precisava. Escrever me alenta a alma, alivia o peito.
Não está sendo fácil, mas eu acredito no que as pessoas dizem que, aos poucos vai aliviando, acalmando e se transformando. Acho que a morte ressignifica depois de um tempo, né? Assim espero!!
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